Fomos surpreendidos na última quinta-feira, dia 12 de maio, véspera da festa de Nossa Senhora de Fátima, pelo Romano Pontífice. Numa reunião com cerca de 800 irmãs superioras gerais de congregações de freiras falou da criação de uma comissão especial para estudar a possibilidade da ordenação de mulheres para o Ministério de Diácono. Assim avança o pensamento e a prática dos seus predecessores João Paulo II e Bento XVI que falaram sobre a dignidade da mulher na Igreja. Para Francisco o diaconato feminino não é feminismo, mas a vontade de reencontrar a dignidade das origens.

Ora, se lemos os Evangelhos podemos ver como Jesus, de um modo totalmente descontínuo em relação ao judaísmo, buscava e encorajava a presença feminina. Lembremos como os Evangelhos dão destaque à presença das mulheres na vida e no ministério itinerante de Jesus, destacando inclusive os nomes de algumas delas: Maria Madalena, Joana, Susana, Marta e sua irmã Maria e, acrescenta, "muitas outras", expressão a partir da qual nos permite concluir um número de seguidoras mulheres mais ou menos igual ao dos seguidores homens.

Isso aparece também nas Comunidades da Igreja primitiva, como, por exemplo, na Carta de São Paulo aos Romanos: "Recomendo a vocês nossa irmã Febe, diaconisa da igreja de Cencreia" (Rm 16,1). Também nas Comunidades dos primeiros séculos, como ainda registra o Concílio de Calcedônia no ano de 451. Assim podemos deduzir que o posicionamento surpreendente do Papa Francisco dá a entender que a exclusão da mulher aos ministérios ordenados não está fundada em dogmas, nem mesmo na tradição da Igreja, mas se trata de um problema de normas ligadas a um contexto histórico ao qual foram emanadas.

O contexto mudou. Quando se entra em qualquer igreja para a missa, as mulheres estão sempre em clara maioria. A maioria das lideranças comunitárias e das pastorais é de mulheres. É visível a “olho nu” a escassez de padres para acolher os fiéis e pastorear o rebanho. Mas também uma questão de justiça, pois embora sejam a maioria ativa estão impedidas de exercer ministérios que ficaram reservados aos homens. O diaconato feminino poria fim a essa injustiça e abriria muitos novos caminhos. Para o Papa Francisco é, pois uma urgência da qual a Igreja não pode mais se eximir.

Gostaria de sublinhar ainda, na fala do Papa o que considero o momento em que foi mais corajoso, quando tratava das freiras mesmo. Incitou-as a se recusarem a desempenhar serviços que não são um trabalho para a Igreja, mas uma servidão pessoal para os sacerdotes, como os trabalhos domésticos, "porque, quando se busca que uma consagrada faça um trabalho de servidão, desvalorizam-se a vida e a dignidade daquela mulher", disse ele. A leitura latino-americana da vida religiosa certamente contribui para essa profecia. O protagonismo pastoral das religiosas entre nós é admirável.

Está dado o pontapé inicial. Pois, como bem reflete o Santo Padre, não se trata de reduzir a questão ao movimento feminista atual, mas é uma digna igualdade que o Sacramento do Batismo sublinha  em fidelidade à pregação e à pratica de Jesus. E, porque não dizer à fidelidade àquele eterno princípio de paridade que surgiu no momento da criação: "E Deus criou o ser humano à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher" (Gênesis 1, 27). E tendo como modelo de vida cristã a Maria, que veneramos intensamente na Igreja e, de modo especial, no mês de maio, possamos dar esse passo tão necessário à missão da Igreja hoje.

Medoro, irmão menor-padre pecador