Os católicos no mundo inteiro vivem as alegrias do Ano Santo da Misericórdia instalado pelo Papa Francisco na Festa da Imaculada Conceição, em comemoração aos 50 anos do final do Concílio Vaticano II. A celebração do Ano Santo Jubilar tem origem no Jubileu hebraico, onde a cada 50 anos, durante um ano, chamado ano sabático, eram libertados escravos, as dívidas eram perdoadas e as terras deixavam de ser cultivadas, entre outras coisas. Estas comemorações são referenciadas na Bíblia, nomeadamente em Levítico (LV 25,8). Na tradição católica o jubileu, comumente chamado de Ano Santo, é o ano que a Igreja proclama para que as pessoas se convertam em seu interior e se reconciliem com Deus, por meio da penitência, da oração, da caridade, dos sacramentos e da peregrinação, “porque a vida é uma peregrinação e o homem é um peregrino” (MV 14).

O Papa assim justificou a convocação desse 29º Jubileu da história da Igreja: “Pensei muitas vezes no modo como a Igreja pode tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e devemos fazer este caminho." “Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus” pois a Igreja «é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém”. “As suas portas estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se convertem”. Assim o Papa quis nos unir mais ao rosto de Cristo, no qual se reflete a misericórdia do Pai, que é “rico em misericórdia” (MV 1). E é isso que podemos vivenciar neste Ano Santo, sob o lema: “Misericordiosos como o Pai”.

Em todos os anos santos é possível ganhar indulgências, graças especiais que a Igreja concede e que podem ser aplicadas à remissão dos próprios pecados e suas penas, ou também aos defuntos que estão no purgatório. Além disso, o Papa Francisco aconselha que pratiquemos as obras de misericórdia, além de viver intensamente a oração e o jejum (MV 17); também recomenda que nos confessemos, para poder receber melhor as graças do ano jubilar. E que cada um realize uma peregrinação, de acordo com suas capacidades, para atravessar a Porta Santa. Em nossa Diocese podemos ir à Porta Santa da Catedral e de nossas Matrizes paroquiais por ocasião das festas dos padroeiros.

A Porta Santa só se abre durante um Ano Santo e significa que se abre um caminho extraordinário para a salvação. Na cerimónia de abertura, o Papa toca a porta com um martelo 3 vezes enquanto diz: "Abram-me as portas da justiça; entrando por elas confessarei ao Senhor". Podemos dizer que um primeiro gesto social-cidadão da abertura dessa Porta Santa foi, no último dia 03 de dezembro, a nota da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, organismo da CNBB: Para onde caminha o Brasil? Eis na íntegra o apelo de responsabilidade politica de todos os cidadãos para com o Brasil em crise.

“A Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo da CNBB, no ensejo da ameaça de impeachment que paira sobre o mandato da Presidente Dilma Rousseff, manifesta imensa apreensão ante a atitude do Presidente da Câmara dos Deputados. A ação carece de subsídios que regulem a matéria, conduzindo a sociedade ao entendimento de que há no contexto motivação de ordem estritamente embasada no exercício da política voltada para interesses contrários ao bem comum. O País vive momentos difíceis na economia, na política e na ética, cabendo a cada um dos poderes da República o cumprimento dos preceitos republicanos.

A ordem constitucional democrática brasileira construiu solidez suficiente para não se deixar abalar por aventuras políticas que dividem ainda mais o País. No caso presente, o comando do legislativo apropria-se da prerrogativa legal de modo inadequado. Indaga-se: que autoridade moral fundamenta uma decisão capaz de agravar a situação nacional com consequências imprevisíveis para a vida do povo? Além do mais, o impedimento de um Presidente da República ameaça ditames democráticos, conquistados a duras penas.

Auguramos que a prudência e o bem do País ultrapassem interesses espúrios. Reiteramos o desejo de que este delicado momento não prejudique o futuro do Brasil. É preciso caminhar no sentido da união nacional, sem quaisquer partidarismos, a fim de que possamos construir um desenvolvimento justo e sustentável. O espírito do Natal conclama entendimento e paz”! 

Por misericórdia façamos a nossa parte cidadã!

Medoro, irmão menor-padre pecador